cohab pestano
onde é pelotas, afinal de contas?
uns concordam que é no laranjal.
ou que é ali no mercado e suas imediações
a biblioteca o quindim de nozes.
os doces negros dos negros de pelotas
muitos juram que é onde pelotas.
têm aqueles que vão convencidos
de que pelotas é algo dos ramil.
de que pelotas agora é outra
que é outra onde angélica freitas.
onde é giba giba, afinal, pelotas?
é ainda pelotas ao final de tantas?
pelotas até cohab pestano
onde extremo o aeroporto é pelotas.
esgoto a céu aberto
onde o pestano a contragosto é pelotas.
onde é o povo negro no pestano
a poeira das ruas de terra e chão.
o ir e vir do povo do pestano
onde afinal é pelotas, a que eu sei.
a música de moacir santos, como ela aparece
para kant não podemos coisar as coisas como elas são
se o alemão tivesse sido contemporâneo de moacir santos
talvez a coisa não fosse bem assim
o filósofo do idealismo ainda teria de sacar alguma coisa de música
afinal, isso é coisa de negro:
basta colocar um piano na frente deles (de um modernista de 22)
mas quando duke se viu cara a cara com um piano, disse:
“isto não é piano, é sonhar, ouça…”
assim moacir santos com a boca em seus sopros
já que a tormenta essencial do corpo,
a música: graus de identidade em
impenetrável insubsistência
supor-se poeta ao invés de bebum
corajoso apenas o bebum solitário
não basta ter colhão para
bebendo em grupo sindicalizado
proferir asneiras na esperança intimorata
de que no momento
seguinte nossas necedades rebrilhem
à maneira de árduos achados
sem ninguém com quem dividir o próprio ridículo:
esse o bebum de verdade opulento no opróbrio
nem mesmo os heróis homéreos (remeiros subalternos
quando postos em relação com o solerte e laércio odisseu)
libando além do dionisiacamente tolerável
nem mesmo tal progênie sabia beber
em equipe bebuns se ombreiam
até o ponto em que um
graças ao virtuosismo
se destaca do restante
espécie de mártir que absolve
os que ficaram mais atrás
bebum de verdade bebe sozinho
se é para beber em grupo
que se beba junto com o vinho
ou a cerveja escura, que se beba junto
o riso de si mesmo de pacto com o vizinho
beber em grupo e dar-se em espetáculo (misto
de imolação e amolação)
é mais de envergonhado do que de sem vergonha
bebum de respeito bebe consigo mesmo
não obriga o cristão
a suportar misericordioso
sua cólica narcísica
o bebum sabe que não é poeta
bebuns supõem-se grandes poetas
Ronald Augusto (1961) é poeta, músico, ensaísta. As principais temáticas presentes em seu repertório intelectual referem-se à poesia contemporânea e à vertente negra na literatura brasileira. Atualmente Ronald Augusto realiza palestras e oficinas/cursos abordando assuntos como música, poéticas contemporâneas, literatura negra e poesia visual. Entre 2007 e 2012 manteve ao lado do poeta Ronaldo Machado a Editora Éblis, voltada para a poesia. De 2009 a 2013 foi editor associado do website WWW.sibila.com.br. Tem colaborações (resenhas e artigos de cultura e arte) nos cadernos Cultura do Diário Catarinense e do jornal Zero Hora. Publicou, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), Decupagens Assim (2012) e Empresto do Visitante (2013). Dá expediente no blog www.poesia-pau.blgspot.com e é colunista do site http://www.sul21.com.br/jornal/
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