Sem título
olá
meu nome
é povo
sempre
disposto
a começar
de novo
sangue
que nunca
escorre
sou meu
próprio porre
alma
que não
declina
sou minha
própria vagina
ASSALARIADA
rodando
bolsa
na estrada
DES-PRO-TE-GI-DA
sentada
no torno
da vida
preenchida
por tipos
e protótipos
por nórdicos
por nordestinos
por cretenses
e por cretinos
Sem título
a vida é mais bonita
no meio da pista
meus grandes planos
estão queimando
meus bons amigos
foragidos
a vida é mais completa
com a janela aberta
meus vôos insanos
estão pousando
meus bons ruídos
constrangidos
Sem título
desvende meus medos
não minhas tatuagens
dome minha perversão
não meus fetiches
perambule pela névoa
não pelo eclipse
vasculhe cofres
não estrofes
ofereça-me hipóteses
não hipotenusas
sou cateter
vascularizado
rasgado pela incisão
da navalha
teatrauma tosco
mortalha
tralha
BRUNO CANDÉAS, considerado pela crítica como um dos mais cáusticos e criativos poetas de sua geração, autor de Poeta nu na alcova, Filé, Férias do gueto, A trégua dos ditadores, Indigestual e Teatrauma.
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