Náufrago insubmisso
Parir um verso no abismo
com sílabas secretas,
tangidas pela demência do mundo.
Eis o delírio do poeta.
A palavra migra no enigma
das aves, rumo ao fogo,
ao precipício.
No caos do abandono,
o uivo dos fonemas
assombra o ocaso.
E o poema, náufrago insubmisso
à tirania das águas,
rasga os mares cegos da escrita.
Abismos da Travessia
Poesia, universo de ocasos
a irromper a gramática do espanto.
Sílabas em chamas
incendeiam o coração da palavra.
O poema sangra o infinito;
o punhal do tempo
devora-nos.
Nas ruínas da carne,
somos andarilhos
entre as lâminas das horas.
Pertence-nos apenas o assombro do instante,
a pulsação das metáforas,
a nudez do efêmero,
Neste léxico de Chronos,
a poesia é o caminho,
navegando os ossos
pelos abismos da travessia.
Imortal Poema
Invisível átomo do universo.
Ser histórico e contingente.
Artesão da letra e do verso.
Alma inquieta, poeta indigente.
Nenhum ouro me alegra.
Poder algum me embriaga.
Riqueza nenhuma me apega.
Nenhuma glória me afaga.
E nesta vida vil e cinzenta,
mar de injustiças e ilusões,
um único desejo me alenta:
Sepultem-me com alegria
Na cova do imortal poema,
Conjecturo renascer poesia.
Wagner Andriote nasceu em Dois Córregos-S.P., atualmente reside na cidade de São Paulo. Publicou “Desordens do Ocaso”, Editora Scortecci, 2014, participou de diversas coletâneas nacionais, entre elas “Concurso Nacional Novos Poetas, Prêmio CNNP” – 2014, “Antologia de Prosadores e Poetas Brasileiros Contemporâneos”, Porto de Lenha Editora – 2015, “Coletânea dos 40 anos do Movimento Poético Nacional” – 2016. Em 2018 participou do livro digital “Brinquedos do infinito – Poemas a dezesseis mãos”, obra que promove a circulação livre e gratuita de poemas coletivos.
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