O que sobrou do hoje
corta-me o pão
a fome é farta
sublinha na mesa
o decoro do dia.
as moscas
solidárias
lambem-me as chagas
de barriga cheia.
tira-me o prato
a desfaçatez da pobreza
enche meus olhos
que morrem de sede.
recita-me noturno
a misericórdia dos homens,
talvez me compadeça
e me perdoe a mim a mendicância
me ensine a morrer
antes que o pão se acabe
a fome seja corpo
e me faça ninguém.
Dores Modernas
sobrevivo ao mundo
que não cabe na morte
não cabe nos dias,
não cabe em mim;
derrotam-me as armas
que pedem paz
no passeio agonizante do homem
que morre
sem perceber-se vivo.
sobre vivos
erguem-se os muros
exilados
tecendo à sombra da noite
a penúria humana;
são os cristais da bondade
que nos ferem a carne
sangra o afeto
derrota o iludido…
é o homem,
senhor,
carrasco do seu tempo.
Presente
Percebo-me envelhecido
não que a vida,
essa janela fuliginosa,
assim o tenha feito.
engelha-me a face
a futuridade dos dias,
que se antecipam ao ontem;
as engrenagens das horas
que retorcem o presente
doído
criam monstros
que me devoram o encanto.
Envelhecem os dias
sem pausa
para o fim que não chega.
Quem nascerá
sem o cansaço
do amanhã?
Douglas Nélio Lima de Oliveira, é arquiteto e urbanista e escritor paraense, nascido na cidade de Belém, no ano de 1984. Estreou na literatura com o Romance Histórias de Chuva, o qual foi vencedor do Prêmio Literário Dalcídio Jurandir 2017, promovido pela Fundação Cultural do Pará. Teve poemas publicados na Revista Ver-O-Poema e Revistas Aspas Duplas.
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Sou seguidora desse Poeta há tempos! Sua forma de reescrever a realidade é de um encanto único. Sua escrita tem uma melodia que flui no devir da vida. Parabéns por publica-lo, aqui!!!
Parabéns poeta. Privilégio ler-te. Abraços.