EM DEFESA DOS POETAS
O que devemos fazer com os poetas?
A vida é dura com eles
eles parecem tão deploráveis vestindo de preto
sua pele azulada por nevascas internas.
Poesia é uma doença terrível
o infectado caminha entre lamentos
seus gritos poluem a atmosfera como vazamentos
de usinas nucleares da mente. É tão psicótico.
A poesia é uma tirana
mantém as pessoas acordadas à noite e destrói casamentos
atrai pessoas para cabanas solitárias no meio do inverno
onde elas ficam a sofrer usando protetores de ouvidos e grossos cachecóis.
Imagine a tortura.
Poesia é uma peste
pior que a gonorreia, uma abominação terrível.
Mas pense nos poetas, é difícil pra eles
seja paciente com eles.
Eles são histéricos como se esperassem gêmeos
eles rangem os dentes enquanto dormem, eles comem lixo
e mato. Eles ficam lá fora na friagem por horas
atormentados por terríveis metáforas.
Todo dia é um dia sagrado para eles.
Oh, por favor, tenha piedade dos poetas
eles são surdos e cegos
ajude-os a atravessar o trânsito por onde vão tropeçando
sobre seus obstáculos invisíveis
lembrando todo tipo de coisas. De vez em quando
um deles para e fica ouvindo uma sirene distante.
Mostre consideração por eles.
Poetas são como crianças loucas
que foram afugentadas de suas casas por toda a família.
Reze por eles
eles nasceram infelizes
suas mães choraram por eles
procuraram ajuda de médicos e advogados,
até que tiveram que desistir
por medo de perderem a própria sanidade.
Oh, chore pelos poetas.
Nada pode salvá-los.
Infestados de poesia como leprosos secretos
eles estão encarcerados em seu próprio mundo de fantasia
um gueto macabro cheio de demônios
e fantasmas vingativos.
Quando em um dia claro de verão, o sol brilhando intensamente,
você ver um pobre poeta
cambaleando pra fora do bloco de apartamentos, parecendo pálido
como um cadáver e desfigurado por suposições
caminhe até ele e o ajude.
Amarre seus cadarços, leve-o para o parque
e ajude-o a sentar em um banco
sob o sol. Cante um pouco pra ele
compre um sorvete e conte uma história
porque ele é tão triste.
Ele está completamente arruinado pela poesia.
ENCORAJAMENTO
Não é um pensamento edificante
que dentro de algumas décadas nós
e toda essa época confusa
com seus presidentes retardados,
argumentos desgastados,
apresentadores de TV piegas, jornalistas apáticos,
e o regozijante coral capitalomaníaco
sumiremos? Para sempre.
Nós vamos desaparecer.
Eles vão desaparecer.
Eu vou desaparecer.
Você vai desaparecer.
Tudo vai desaparecer.
Hurrah!
EPIGRAMA
Podes passar uma vida inteira
em companhia de palavras
sem que encontres
a adequada.
Tal como um peixe miserável
embrulhado em jornais húngaros.
Por um lado, está morto,
por outro, não entende
húngaro.
Tradução: Matheus Peleteiro e Edivaldo Ferreira
Niels Hav nasceu em 1949 na cidade de Lemvig, área rural no oeste da Dinamarca. Estreou na literatura em 1981 com a publicação de um livro de contos e no ano seguinte publicou seu primeiro livro de poesia. Niels já se estabeleceu como uma voz nórdica contemporânea. Autor de contos e poemas publicados em inúmeras revistas e antologias em todo o mundo e traduzido para diversos idiomas. Ainda inédito no Brasil, a editora Penalux (SP) prepara uma coleção de poemas de sua autoria intitulada “A Alma dança em Seu Berço”, com tradução de Matheus Peleteiro e Edivaldo Ferreira, que será lançada em 2018.
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Gostei muito desse site. Parabéns pelo trabalho 🙂
Luciana, obrigado! Seja bem-vinda!