Não havia ausência em meu pai
a palavra afeto sopra areia.
leva caminhos pesadelos
em cada grão.
não há retorno maior que a presença.
naquela tarde, não havia falta
nas palavras de meu pai.
mas, era estranho ouvir
aquela voz compressa
sentir dores e saudades.
ah! o doce de cajuí
de vó Luíza! minha avó!
as sobrancelhas,
a obsessão do arco-íris
a Travessa do Tamarineiro
e meus olhos nos olhos de Lacan.
Nos escombros
subversivo
como os grãos de enganos
são os cultos
deste segredo:
a carne vendida
em Hiroshima
e um chacal
que não conhece
a memória.
Esparadrapo
o desalento do barquinho
papel branco dobrado
na água em frente ao nada.
sem mar para se perder
navega nas artérias
timoneiro cansado.
não partir
soltar o porto
cortar a corda
criar precipícios
nos olhos.
sofrimento mesmo
não é o do santo.
é de carne
sangra ferida machucada.
Paulo Rodrigues nasceu em Caxias-MA, em 16 de fevereiro de 1978. É Professor de Língua Portuguesa e de Latim. Foi Secretário de Educação de Santa Inês. Escritor, poeta, jornalista. Obras: Dissonâncias Poéticas em Poemas Acidentais (Poesia/ Editora 360º), em 2013; Crônicas da Cidade e Outras Narrativas (Crônicas/ Editora 360º), em 2014; Apenas um sujeito lírico (Poesia/ Editora 360º), em 2015; O Abrigo de Orfeu (Poesia/Penalux), em 2017.
Beleza de poesia, que vai do mais universal aos afetos e feridas íntimas. Parabéns pelo verbo tocante, Paulo Rodrigues.