NÃO APRENDI DIZER ADEUS
foi um deslize
um equívoco
uma escorregadela
um engano
um mal-entendido
um lapso
um ato falho
perdoai, pois, o nefasto inconsciente
ele não sabe o que faz
PLANO
dois pares de mãos
a segurar pelo braço
o mesmo regador
o vasto campo
de sempre-vivas
esperando pela água
de generosa sede
a ânsia das fulozinhas
em fartarem-se ao sol
as suas muitas cores
de tal tempo inarrável
sobrevirá um romance
sem desfecho, sem remate, sem fim
NU COM A MINHA MUSA
antes de os corpos
qual touceiras
serem atravessados
por lanças sebastianas,
: a linguagem
quando os corpos
de sais
& mel
abundamentemente
exsudados,
: a linguagem
se
momentânea
& inutilmente
os corpos
dela & meu
separados,
: a linguagem
agora &
para sempre
tatoos
em toda parte
dos corpos
[por móbiles lábios]
lanhadas
: a linguagem
Erre Amaral é escritor, poeta, ensaísta e professor universitário. Autor de Do mundo, suas delicadezas (romance, Editora Penalux, 2017), 54 [+ uma] mulheres do baralho (poemas, Editora Cousa, 2015), Contos extraviados (contos, Butecanis Editora Cabocla, 2015), Uma Denise (romance, Editora Cousa, 2014), Le mot juste (romance, Orobó Edições, 2011) e Paul Ricoeur e as faces da ideologia (ensaio, Editora da UFG, 2008).
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