A arte de hibridizar fontes e estilos estão no livro de Crônicas Demônios Domésticos.

 

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Tiago Germano. Demônios domésticos. Ed. Le Chien. 2017

 

 

 

A arte de hibridizar fontes e estilos estão no livro de Crônicas Demônios Domésticos.

Por Fernando Andrade

 

 

Para fazer esta resenha fui rascunhar um Zé. Não o Wisnik com seu olhar denso e fractal sob São Paulo, e as emoções que uma cidade lhe con-vém. Tive que ouvir a voz do Ramalho para fazer o texto onde não brilha com Áz da poesia numa prosa-poética mesmo talhada em mármore-carrara. Tive que alunar um táxi  para ocupar espaços onde a canção tão retida e renitente quanto o pé de uma árvore onde já dizem os estudiosos começou com o cronismo. Tava eu ouvindo o Zé na voz de um Zeca baleeiro à Moby Dick quanto as profundezas do texto Carveriano. Carver, o Raymond, apostou na biografia de uma vida zumbida, com vozes paternas, e muita velocidade. Sim, Zé Ramalho cronizou o urbano-sertanejo, o bardo com a única arma possível: a palavra brada a palavra alquebrada, caiada de sedimentos. Sentado à redi\agir a resenha, vejo o livro, Demônios Domésticos Editora Le Chien, do escritor Tiago Germano, e vejo como um bom peão monta um garrote, la(n)çando o mote-tema sem qualquer cabresto.

 Tiago poderia seguir traçando o prosaismo cotidiano de um evento. Mas seus textos são argilas de se montar tensões, usando a linguagem que volteia amperagens de luzes e sombras. Não basta começar com uma posta (gem) notícia, o fato em si, ou a memória do evento logo se transforma numa trilha sangrenta de reflexão, com doses de auto-ironia, com imagens buscadas em poéticas de alguns do nossos mais possantes poetas. O desvario do cronista está em fundir a linguagem do conto, com suas margens represadas e seu fundo quem? sabe qual a profundidade de um conto breve? E misturar isso ao cotidiano mais filigranático. Todo o percurso da crônica é mimetizado pelo controle do trovadorismo. Mudar a calvagadura de um texto (o leve ondular), foi o que muitos músicos compositores fizeram alternando cenas, colocando climax(s) onde nem pensaríamos pudessem estar ou ser.

 

 

 

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Fernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta  Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Está lançando esta semana o quarto livro de poemas, a perpetuação da espécie pela Editora Penalux.

 

 

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