Luiz Otávio Oliani é professor e escritor. Publicou 13 livros, sendo 10 de poemas e 3 três peças teatrais. O título mais recente é o solo de poemas ”Palimpsestos, Outras Vozes e Águas”, Editora Penalux, 2018.
oliani528@uol.com.br
1-) Como é esta apropriação da dicção de um poeta para acompanhar um panorama da nossa poética brasileira? Você usa além dos temas no caso do Kafka, mas também uma estética sonora dos poetas. Como é isto?
Acompanho o panorama da poesia brasileira contemporânea como professor e escritor, em virtude de um interesse múltiplo em conhecer o que se produz hoje. Como docente, reconheço que nem todos que lecionam literatura têm esta mesma postura que eu. Lamentavelmente, mas isto ocorre por fatores que não vêm ao caso. Já como escritor, vejo que é essencial ler os meus pares, os meus contemporâneos, a fim de interagir com eles.
Agora, quanto à citação feita a Franz Kafka, é preciso dizer que o poema “Estranhamento” publicado na primeira parte do livro “Palimpsestos, Outras Vozes e Águas”. Editora Penalux, 2018, é dedicado ao autor de “A Metamorfose”. Nesta seção, todos os poemas são loas a personalidades e o processo de criação começou a partir da obra mais famosa deste tcheco ilustre. O poema nasce, é trabalhado e retrabalhado em exaustão até chegar a uma forma adequada.
ESTRANHAMENTO
ser um inseto
monstruoso
não viver
em sonho
ter asas
comer lixo
o peso dos outros
contra Gregor
a vida que devia
não devia ser
um pesadelo kafkiano
2-) Villa Matas diz em seus romances que escrever é uma forma nova de se apropriar das leituras que fizemos durante a vida. Ler e escrever são pulsões gêmeas que se simbiotizam, mimeticamente. Para você o que é ato da leitura? E como ele te absorve ao escrever tanto um poema, como um conto ou uma crônica?
O ato de leitura é sempre solitário. Trata-se de uma viagem ao desconhecido, cujos resultados inesperados sempre provocam algo em quem lê. Pode ser o encantamento, a satisfação, a dúvida, a ir, ou seja, um bom texto literário precisa provocar o estranhamento. O leitor nunca pode ser o mesmo ao final de uma obra de qualidade, já que algo do texto tem que mexer com o íntimo dele. Sendo assim, a leitura é essencial na atividade da escrita, já que não se pode conceber um escritor que não lê,assim como não pode haver um jogador de futebol que não aguente correr por dez minutos. Nos dois casos, o fracasso será inevitável.
Ler alimenta o escritor, mas não basta só isso. É preciso estudar, escrever, reescrever, ler, reler e, sobretudo, ter um olhar poético sobre a vida, a fim de captar situações ou cenas do cotidiano que podem ser objeto de literatura por si só. Neste caso, o escritor colhe estas pérolas diárias e produz a sua obra. Ou ainda inventa, parte do ficcional simplesmente.
3-) Na parte outras vozes você usa a dicção de poetas contemporâneos seus, para estabelecer uma prática dialógica. Você os conhece a maioria. A forma de comunicação para usar seus estilos, formas, é muito diferente com os poetas ditos canônicos? O que o poeta em vida se diferencia de um poeta já falecido na hora de escrever tendo eles como referência?
De 2013 a 2016, realizei um projeto audacioso que consistiu na publicação de uma trilogia de livros intitulada de “Entre-textos”, todos publicados pelo selo da Editora Vidráguas, de Porto Alegre. Neste trabalho, elaborei 123 diálogos poéticos com autores brasileiros contemporâneos, de 20 Estados do Brasil. Foi um trabalho árduo, com grau de dificuldade, que me levou ao estudo de poetas totalmente diferentes em estilos, formas de escrita e concepções artísticas. Escrevi um poema para cada um desses 123 autores. O resultado é uma grande intertextualidade em forma de paráfrase.
Já em “Palimpsestos, Outras Vozes e Águas”, na segunda parte do livro, a que se refere às vozes diversas, valho-me do mesmo recurso. São poemas dedicados a alguns dos meus contemporâneos, seja com alguns versos deles, ou não. Por isso, Antonio Carlos Secchin citou na quartacapa da obra: “Este é um livro de afagos e de afetos. Amorosamente, o poeta sabe que a literatura se abastece de si própria, tanto quanto do que pulsa e vive a seu redor.”
Tal parte se opõe à seção inicial do livro, os palimpsestos, nos quais os poemas trazem referências a autores já consagrados. Mas afirmo: não há diferença alguma em ler um poeta já consagrado e um dos pares contemporâneos e, ao final, escrever um poema inspirado em uma dessas vozes. Trata-se apenas de uma questão pessoal, de gosto e de vontade de querer produzir algo sempre novo, já que o escritor precisa se reinventar.
Já em “Palimpsestos, Outras Vozes e Águas”, na segunda parte do livro, a que se refere às vozes diversas, valho-me do mesmo recurso. São poemas dedicados a alguns dos meus contemporâneos, seja com alguns versos deles, ou não. Por isso, Antonio Carlos Secchin citou na quartacapa da obra: “Este é um livro de afagos e de afetos. Amorosamente, o poeta sabe que a literatura se abastece de si própria, tanto quanto do que pulsa e vive a seu redor.”
Tal parte se opõe à seção inicial do livro, os palimpsestos, nos quais os poemas trazem referências a autores já consagrados. Mas afirmo: não há diferença alguma em ler um poeta já consagrado e um dos pares contemporâneos e, ao final, escrever um poema inspirado em uma dessas vozes. Trata-se apenas de uma questão pessoal, de gosto e de vontade de querer produzir algo sempre novo, já que o escritor precisa se reinventar.
4-) Como está o processo de divulgação do livro? Vai ter algum lançamento no segundo semestre?
O processo de divulgação vai bem. Fizemos intervenções literárias no SARAU DOS ERRANTES, no Méier, em 30 de junho, e no CHOPE MÚSICA E POESIA, no Cachambi, em 07 de julho, declamando poemas de “Palimpsestos, Outras Vozes e Águas”. Concedi entrevista para as comunicadoras Diva Peres e Rosa Rinaldi , no PROGRAMA IDOSO EM FOCO, na Rádio UERJ, com previsão para novembro. O livro já foi resenhado por Vitor Lima, com matéria publicada no blog PONTO PARÁGRAFO. Haverá também outra intervenção em 21 de agosto, no “Terça conVERSO no Café”, Grupo Poesia Simplesmente, em Copacabana. Tudo antes do lançamento oficial de “Palimpsestos, Outras Vozes e Águas” que ocorrerá no dia 11 de setembro de 2018, no Projeto Cultural POETA SAIA DA GAVETA, na Casa do Bacalhau, à rua Dias da Cruz, 426, Méier, Rio de Janeiro, de 19 às 23 horas. Também ocorrerão outras intervenções e tudo será noticiado no Facebook.
Fernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Está lançando esta semana o quarto livro de poemas, a perpetuação da espécie pela Editora Penalux.
Conhecer a poesia de Luiz Otávio Oliani é o conhecimento de quem deseja trafegar livremente pelos saraus do Rio de Janeiro.