“que os teus pés sejam nuvens” – Três poemas de Camila Assad

I

a nuvem mais branca no céu
é aquela que vai fazer chover
e estragar seus planos de natação a dois
num final de semana de janeiro no chalé
perto de um sítio em atibaia
a nuvem mais bonita que você vê agora
vai ser aguaceiro e chuvarada no seu quintal
de flores amarelas em crescimento longitudinal

as nuvens como suas mãos
verytallandlarge
as nuvens como carícia suave,
eu sou cumulonimbus
eu precipito a tempestade

II – precezinha

que os teus pés sejam nuvens
e teus dedos sejam infantes
a estourar plástico bolha
pra te dar tesão & alegrias
e que tuas mãos sejam grama
fresca de outono e que
tua cabeça seja sempre
cama de mola e que eu
te envolva em lençóis rasgados
e de poucos fios mas
sempre com afetos e que
teus olhos reflitam o sol
que faz em janeiro nos trópicos
e tua pálpebra se feche todas as noites
ao último som do sino da catedral
e ao meu suspiro de “seeyoutomorrow”

III

tão pesado,
quase etéreo
a solidão tem gosto de domingo depois do fantástico.

existe um paraíso na terra
mas ninguém nunca conheceu.

a luz estremecida sob o quarto
revela uma mentira antiga que eu já suspeitava:
não tem ninguém aqui nessa alma.

Camila Assad Quintanilha nasceu em 1988 em Presidente Prudente/SP. Escreve, traduz, desenha e pinta. Publicou Cumulonimbus pela Quintal Edições, em 2017. É aluna do Curso Livre de Preparação de Escritores (CLIPE), organizado pelo Centro de Apoio ao Escritor (CAE) ligado à Casa das Rosas. Já publicou em mídias literárias diversas como revista Raimundo, Gueto, Mallamargens, Subversa, Sibila, Bula, etc. Atualmente desdobra-se entre o interior e a capital paulista.

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