A sombra da ausência
O corpo vai, a sombra fica.
Um eco sem voz que assombra
a sala, a mala sendo arrumada
para a viagem, que, dia-a-dia
se faz um pouco sem saber se
é volta ou ida – O copo quebra,
o sabor fica, a aura de um hálito
em torno à boca que se intensifica,
quando um conhecido fantasma
passa pelos terraços da memória
e evoca um nome, um aroma, uma
hora perdida entre as folhas secas
de um outono que se deteriora
conforme a mão do inverno o toca.
O céu se ensombra, o azul fica.
Em alguma dobra das pálpebras
da íris, dos cílios, sua luz habita
Do livro A sombra da ausência
Onde
Onde a voz é tão soprana que
sua ponta de diamante trinca
o céu de vidro, e onde a luz
é treva, de tão intenso o brilho
onde o presente é eterno e o
eterno tão efêmero, que o tempo,
imóvel, é um Buda sentado à
beira e à sombra de si mesmo
Onde a beleza é medonha de
tão radiosa, rosto, rosa, que
nos interroga no silêncio dos
espaços infinitos que apavora
Onde o vazio é um estar cheio
de nada, e onde tudo não passa
de espaços entre as estrelas, vida,
morte, numa única centelha
Do livro Rio Silêncio
O sopro do esquecimento
Flores amarelas sobre a grama
– Breve incolores, mergulhadas
na água invisível do tempo
Anos, países, povos, pestes,
a onda de terror da noite,
a flama da seta que voa de dia,
apagam-se na face dos espelhos
Só o sopro do esquecimento
faz suportável este pensamento
Do livro inédito A outra voz
Antônio Moura, nasceu em Belém do Pará, 1963, poeta e tradutor, tem 10 livros publicados, sete no Brasil, quatro de poesia e três de tradução; e três no exterior, Inglaterra, México e Catalunha. Em 2008, Rio Silêncio foi premiado na Inglaterra no Prêmio John Dryden. Também publicado em diversas revistas e antologias nacionais e internacionais
A poesia de Antônio Moura traz uma voz insubmissa e selvagem para o nosso tempo carente de poesia com raiz, profundidade.
A poesia de Antônio Moura traz uma voz insubmissa e selvagem para o nosso tempo carente de poesia com raiz, profundidade.
A poesia de Antônio Moura nos leva a nós mesmos, naquilo que muito vezes negamos querer ver, mas que é vida.