nossas conversas
ensaiam despedidas
lâmpadas que oscilam
pouco antes de
queimar
como no poema da bruna
que diz
‘chego de costas pra você achar
que estou indo embora’
toda essa água correndo
e tanta possibilidade
de singrar sangrar
digo qualquer coisa
e essa coisa fica suspensa
mais leve que o ar
mais pesada que
a realidade
você sabe que isso aqui
vai morrer com a gente
por isso o amor é o único deus
possível
concreto mesmo só o vazio
preenchendo tudo aquilo
que não foi dito
definições
eu sou o tiranossauro contemporâneo
rei do braço curto
tentando abraçar com as pernas
o que me cai das mãos
eu sou um pirocóptero
em estado de garça
voando além da asa
do possível e do impossível
eu sou o atendente de telemarketing
que ousou falar verdades
e não durou uma semana no novo
emprego
eu sou:
o post que ninguém curtiu
um pé seco de romã
a grávida de taubaté depois da fama
o brigadista covarde na hora do fogo
o limite estourado do cartão de crédito
enfim
eu sou o atraso da humanidade
e todas as suas manifestações
tudo se refaz
dos estragos da máquina
do mercado
ao fim de um relacionamento
devotado
da vida que expira
em camas de hospitais e cachos
de bananas pretas como pedaços
de carvão
tudo se refaz da nossa vocação
natural e alquímica de falsos midas
transformando tudo que tocamos
em merda
de governos e governantes
advogados e juízes
reproduzindo discursos lorem ipsum
para garantir privilégios exclusivos
de negócios gourmet à manutenção
dos interesses de classes tudo
se refaz apesar da intolerância
da morte das ideologias
do terrorismo real e psicológico
de todos os dias
tudo
se
refaz
basta um novo olhar sobre as mesmas
coisas e sobre as novas coisas
ou quem sabe um novo big bang
sobre todas as coisas
para tudo ficar em paz
são e salvo de nós
Caio Carmacho – Poeta, curador literário e agitador cultural. Organizador do sarau Picareta Cultural. Publicou Livre-me em 2013,pela Editora Patuá.
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