ESTATÍSTICA
Escrever poemas não vale
um corpo caído no asfalto.
Sinais de sangue no sapato.
Riso apagado no ato.
Escrever poemas não vale
a memória dos inimigos da
horda jogados na caldeira
dos silêncios.
Escrever poemas não vale
a noite incômoda e feroz
dos que dormem cobertos
de luas e estrelas.
Escrever poemas não vale
um único segundo de um
dia inteiro penando
injustiças…
Escrever poemas não vale
a primeira sílaba da palavra
morte – derradeira dormida
do corpo e da alma.
Não vale o poema. Não
vale o silêncio sob o manto
dormente das milícias.
Não vale a outra face
navalhadano tapa. Não
vale a pele do mapa.
Não vale a trapaça
da dor, ferida aberta
na couraça.
DO ACASO
E SUAS DELÍCIAS
Essa sensação
que a porta vai abrir
e que o seu abraço
derramado no meu
abraço derramado
vai molhar o piso
SERTÂNICA
metade era
soco
outra metade
sopro
e tudo era tanto
pro meu coração
tão pouco
Lau Siqueira nasceu em Jaguarão, RS em 1957 e reside na Paraíba desde 1985. Escreveu 8 livros de poemas, participou de algumas antologias no Brasil e no exterior. Public poemas, artigos, crônicas e ensaios em revistas eletrônicas e impressas. O poema Estatística é inédito. Do Acaso e Suas Delícias e Sertânica, estão no livro “A memória é uma espécie de cravo ferrando a estranheza das coisas”, publicado em 2017 pela editora Casa Verde (casaverde@casaverde.art.br)
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