Três poemas de Jennifer Trajano

38600571 401724523688463 1116207192152735744 n - Três poemas de Jennifer Trajano

 

 

irracional

nem um poema em linha reta
nem um navio a servir de face
nem um carbono a mais
nem um vem por aqui a menos
nem um óvulo fecundo
nem um rivotril
nem um gigante em moinho
nem uma flor nasceu na rua
nem uma
só uma semente pisada
por uma, duas, três, quatro patas

 

 

canoa

tua voz arrepia epiderme,
gravidadeque transcende
e almeja meu corpo
tua boca cala meus olhos,
espécie de frenesique pula
a cada silêncioque sai

da tua língua
teu olhar ensurdece meus ouvidos,
imagino agudo desejo de tato
tua íris, marujo, grita por terra à vista,
dando som à minha carne
[deixe-me ser tua bússola]

teu balançar paralisa minhas batidas,
numa correria que trava,
prendendo-me nas grandes navegações,
revolução que teu corpo proporciona,
madeira que desemboca e me afoga
na terceira margem do rio

 

 

linguagem

remei a ti lendo herbertohelder
e isto morre aqui
não há de ser o peixe a rosa a mulher
a noite a carne a poesia o sangue
na metáfora da metáfora
isto morre aqui
comonão morrem todos os poemas
na voz de quem os habita
e tu morres afogado na saliva
opiercing no seio é verso
selvagem sentinela palavra fonema
não há de ser a morte o animal os olhos
a mão o som a lírica o marginal
mas virou cu e não buceta
por isto, morre aqui

 

 

SOBRE A AUTORA

Exploradora de mundos possíveis, Jennifer Trajano é professora paraibana, formada em Letras Português pela Universidade Federal da Paraíba. Acredita ser a literatura um  gigante possível no imaginário de quem a lê porque nós seres humanos não vivemos apenas de moinhos de vento, necessitamos ficcionalizar para sermos todos os outros eus não proporcionados pela vida

 

 

Please follow and like us:
Be the first to comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial