irracional
nem um poema em linha reta
nem um navio a servir de face
nem um carbono a mais
nem um vem por aqui a menos
nem um óvulo fecundo
nem um rivotril
nem um gigante em moinho
nem uma flor nasceu na rua
nem uma
só uma semente pisada
por uma, duas, três, quatro patas
canoa
tua voz arrepia epiderme,
gravidadeque transcende
e almeja meu corpo
tua boca cala meus olhos,
espécie de frenesique pula
a cada silêncioque sai
da tua língua
teu olhar ensurdece meus ouvidos,
imagino agudo desejo de tato
tua íris, marujo, grita por terra à vista,
dando som à minha carne
[deixe-me ser tua bússola]
teu balançar paralisa minhas batidas,
numa correria que trava,
prendendo-me nas grandes navegações,
revolução que teu corpo proporciona,
madeira que desemboca e me afoga
na terceira margem do rio
linguagem
remei a ti lendo herbertohelder
e isto morre aqui
não há de ser o peixe a rosa a mulher
a noite a carne a poesia o sangue
na metáfora da metáfora
isto morre aqui
comonão morrem todos os poemas
na voz de quem os habita
e tu morres afogado na saliva
opiercing no seio é verso
selvagem sentinela palavra fonema
não há de ser a morte o animal os olhos
a mão o som a lírica o marginal
mas virou cu e não buceta
por isto, morre aqui
SOBRE A AUTORA
Exploradora de mundos possíveis, Jennifer Trajano é professora paraibana, formada em Letras Português pela Universidade Federal da Paraíba. Acredita ser a literatura um gigante possível no imaginário de quem a lê porque nós seres humanos não vivemos apenas de moinhos de vento, necessitamos ficcionalizar para sermos todos os outros eus não proporcionados pela vida
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