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repara na dança dos teus cílios
quando fala deusa
mirando minha íris
repara quão raro é ser inteiro
terra fértil
canteiro pronto a semear
repara em teus traçados sob minha rotas
nas horas que nos vencem
no nosso abandono, puro encontro
repara na água que você oferece
toada para minha boca
dedilhado minimalista
repara em nossa cara lavada
na nudez de nossas gargalhadas
no quanto de muito no aparente pouco
na sonolência que nos arrebata
na proximidade além corpo
repara
que somos potência e embriaguez
que somos fatia daquele bolo de chocolate
que faço tão bem
repara ainda que se não finda
este encontro ilumina- nos em anos luz
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a gente desaprende dos gostos
da limpidez da loucura
desaprende de como encher
um ambiente de riso
das partituras do corpo
e de ser só(l)
a gente desaprende em calhamaços
de boletos e cortes
nesta cruz que dizem que é de acordo
com o que se pode carregar
na futilidade a gente desaprende
cá pra mim
queria um solo, volúvel solo
uma rede colo
música bonita
a corredeira
a música da corredeira
a inteireza
da correnteza
é que teu medo foi tão maior
que me convenceu
a tua descrença
tua desgraça
tua negação
o jeito como não me olhava
Nil Kremer é atriz e arte educadora, com formação em Letras pela UCS. Participou de coletâneas de poemas (publicações impressas e digitais), tem poemas publicados no livro da Tribo, em fanzines e revistas (digitais e impressas). Publicou o livro independente e artesanal “Kamikaze” (Da Gaveta, 2016) e participou da Coletânea “Misterioso Sul” Lendas em poemas (Elos do Conto, 2018).
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