METAMORFOSE LITERÁRIA: OS NOVOS VIÉS LITERÁRIOS
por Douglas Oliveira
O que há de novo sob o sol da literatura? As escolas literárias, do arcadismo ao modernismo, mudam com a força do tempo. Todavia, este não é o objetivo desta resenha. Deixemos as escolas literárias e suas evoluções para os acadêmicos.
A literatura apresenta-se multifacetada nos dias atuais. Gêneros como horror, thriller, darkfantasy, entre outros, fornecem aos leitores a possibilidade da fuga das mesmices, impostas por obras engessadas que, por vezes, se prendem às técnicas e esquecem o principal, levar o leitor pela aventura da escrita.
Nas prateleiras das grandes livrarias e nas estantes online, um número significante e chamativo de capas aterrorizantes e títulos estrategicamente formulados apresenta uma nova proposta editorial e literária: a literatura através do espelho. Ora, qual seria o novo adorno que se propõe a cativar, cada vez mais, um número maior de leitores dia após dia? A literatura, por si, é um espelho dos dias, contada através da imagem do observador, que vê, no vidro com aço, à sua frente, um reflexo, não seu, mas dos dias que o cercam. Hoje, esse espelho, reflete a luz da fantasia, composta por jovens escritores, que encontraram nesse nicho editorial e literário, um modo de semear a fantasia, que não se atém apenas a narrar uma história, porém incita o leitor a questioná-la, e, principalmente, sonhá-la. Uma obra que não permite a liberdade do sonho literato, não pode ser considerada literária.
Dentro dessa vertente literária podemos encontrar o livro Jardim para borboletas mórbidas, um livro que instiga e permite a fantasia. Vemos um autor que, embora jovem, apresenta uma obra ficcional de forma muito bem elaborada e madura. O laboratório literário – oficinas criativas, cursos de escritas, etc. –, forma escritores cada vez mais jovens. Contudo, arrisco-me a afirmar que o mais perfeito laboratório literário é o livro, a prática da apreciação, da compreensão de um texto. Daí surge os grandes escritores, que bebem diretamente nas fontes (outros autores) e apresentam-nos, na maioria das vezes, suas identidades com os traços da herança estético-literária adquiridas de seus genitores literatos.
O livro do escritor paraense Ed Saraiva Jr, Jardim para borboleta mórbida, pode ser citado como um salto no penhasco para quem sabe voar. A obra traz à luz do suspense psicológico o clássico drama infantil. Poderia, eu, nesta resenha, dizer que o drama resumia-se ao medo, contudo, esse estado afetivo suscitado pela consciência do perigo ou que, de outro modo, suscita essa consciência, não é exclusivo da infância, ao contrário, habita o ser humano em todo o seu existir. Como então, um escritor de pouca idade, consegue reunir em sua obra alguns traumas que assolam o personagem? Talvez a resposta seja pontual; a experiência rigorosa da leitura dos clássicos do terror, horror e afins, conduz o autor a uma trajetória parecida com as de seus inspiradores, porém, com as características literárias que lhe são próprias.
Do livro aqui citado, chamou-me a atenção a construção da personagem Kaverah que, conforme o texto, “sempre vem em forma de uma pessoa boa, mas logo mostra sua verdadeira face”. Uma figura que emprega com inteligência sua disposição em devorar sua presa, o pequeno Nicolae. Há leitores que se identifiquem com o menino inteligente e emotivo, personagem principal do livro, todavia – eis uma afirmação pessoal –, talvez por se tratar de um garoto de pouca idade, Nicolae não me salta aos olhos como o personagem preferido; isto não quer dizer que o autor não tenha acertado na construção do mesmo. Reproduzo, como leitor, a afinidade criada com os personagens do livro.
Certamente que a literatura nacional, e regional, apresenta seus bons escritores aos leitores ávidos por uma boa trama. Há nos escritos de Ed Saraiva Jr o prenúncio de um autor que, mesmo estreante na literatura, possui uma verve literária que o levará, em breve, ao lugar onde deve estar todo bom escritor – não, não é na primeira fileira de alguma premiação –, o lugar onde o bom escritor deve estar é nos cuidados das mãos e olhos dos leitores.
Douglas Nélio Lima de Oliveira, é arquiteto e urbanista e escritor paraense, nascido na cidade de Belém, no ano de 1984. Estreou na literatura com o Romance Histórias de Chuva, o qual foi vencedor do Prêmio Literário Dalcídio Jurandir 2017, promovido pela Fundação Cultural do Pará. Teve poemas publicados na Revista Ver-O-Poema e Revistas Aspas Duplas.
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