Tenho três vidas. Será?
Não procuro respostas
Apenas refletir
Refletir sobre a minha existência
De onde vim
O que faço aqui
E para onde vou
De onde vim
Não me recordo
Mas sei o que me contam
Viveste nove meses
Na barriga da tua mãe
Sentias-te feliz
Aconchegada
Sem medos
Depois
Depois nasceste
Choraste
E cresceste
Cresci
Até chegar a este momento
Em que escrevo
Aquele mundo maravilhoso
De que ouvi falar
Mudou
A felicidade
O aconchego
E o não ter medo
Passou de constante
A inconstante
Mas não é por isso que a vida
Deixou de ser
Maravilhosa
Apenas é diferente
Uma diferença
Que certamente servirá
De aprendizagem
Para uma outra vida
Após a morte
E assim sendo
Tenho três vidas
Será?
O QUADRO DA ESPERANÇA
Observo um quadro negro
Revejo-me nele
Pois é assim que me encontro
Sem ínfima luz
Procuro aproximar-me
Ver de perto
Saber o porquê
De existir um quadro negro
Numa exposição que reflete cor
À medida que me aproximo
O meu coração
Bate forte
Sinto calafrios
Algo me diz que aquele quadro
Não está ali por mero acaso
Assim que chego perto
Reparo que o negro
Tinha sido pintado com palavras
Que se amontoavam
Solidão
Tristeza
Inimizade
Egoísmo
Incerteza
Traição
Ódio
Vingança
Pobreza
Maldade
…
E que apenas remanescia
Um espaço
Um espaço em branco
Que ao longe era imperceptível
Mas que ali
Delimitava bem a palavra
ESPERANÇA
Senti que afinal
Aquele quadro negro
Era o quadro que mais cor continha
O meu “EU”
À medida que ia caminhando
Sentia que algo não estava bem
A sensação era de que alguém me seguia
Continuei a caminhar
Mas a sensação não desaparecia
Resolvi parar
Entrei em pânico
Pois nada mudou
Aquela inquietude que sentia
Em nada me ajudava a entender
O que se passava
Respirei fundo
Olhei em meu redor
E compreendi
Eu não estava sozinha
O meu “EU” estava comigo
Aliás, naquele momento senti
Que sempre esteve
E que a minha essência não tinha mudado
Ele apenas quis chamar-me à razão
Sabia que eu sofria por ser quem era
Mas que iria sofrer mais se assim não fosse
E conseguiu
Fui, sou e serei sempre uma mulher
Que irá lutar pela
Honestidade
Frontalidade
Justiça
E
Igualdade
Maria João Torres é Mestre em Design e Marketing pela Universidade do Minho. Publicou o seu primeiro livro “Crescer com histórias” em 2016, um conto infanto-juvenil “A libertação das letras” pela Editora Litere-se, em 2017 e o livro “Aventuras na Escola”, pela Chiado BooksKids,em junho de 2018. É colaboradora da Revista “Aspas Duplas” e tem participado em vários concursos literários. Os seus poemas “A incerteza” e “Quero sentir-me leve” integraram, respetivamente,o VIII volume da Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea: “Entre o sono e o sonho” da Chiado Editora, 2017 e o 1º Prémio Nacional de Literatura de Belford Roxo, Mozerart Edições, abril de 2018.
Be the first to comment