Três poemas de Lia Macruz

LIA MACRUZ 1024x768 - Três poemas de Lia Macruz

 

 

 

 

eu derreteria esse holocausto mundial
ampliando a boca do meu vulcão
eu usaria meu magma
minha lava
minha menstruação
retiraria as crianças do entorno
deixaria escorrer essa mistura de ferro, água e níquel
eu ficaria por dias em erupção

eu pediria permissão aos meus ancestrais
e aprenderia a ser rocha líquida
reformularia as minhas pedras
depois esperaria por milênios
me sedimentaria
me acalmaria
me cristalizaria

eu me transformaria numa esmeralda
numa turmalina verde
num jaspe sanguíneo

eu seria um bom minério
um cristal com a ponta apontada
para o céu

 

 

procuro sentar no quintal do meu interior
e deixar o alicate de uma mãe velha
arrancar as farpas do meu passado

assim livro-me de minha arrogância
e deixo para os meus pés essa caipira tendência
de se pegar bichos geográficos pelo caminho
por andar espontaneamente descalça

 

 

deslizar feito um peixe pelas bordas da vida
e saber brincar
com a espinha dorsal do tempo

ser um rio em pé
dentro de um corpo aquático

aprender a boiar no chão
e a dar cambalhotas
na própria imensidão

 

 

Lia Macruz, natural de Assis/SP, publicou seu primeiro livro ”Andrômeda sob os Pés” pela Editora Primata. Participou da antologia Mapa Cultural Paulista 2015 e da Antologia Primata.
É terapeuta energética e aprendiz de educadora. Estuda diversos tipos de linguagens sensíveis como complemento de seu trabalho.
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This Article Has 1 Comment
  1. Edson Amaro de Souza Reply

    “eu derreteria esse holocausto mundial”
    Sua poesia tem a simplicidade de Cora Coralina, a audácia sensual de Rita Lee e a revolta de Carolina de Jesus.

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