DESEJO VERBAL
Deságua em mim
a metáfora
dos teus lábios
nesta tarde adornada
de amoras.
Na pele que pede
silêncio
ao borburinho
do sangue que me ferve
o fio que teço
tece a trama
que subleva tuas trevas.
E sigo
adicionando vírgulas
por entre as reticências
do teu corpo.
Acendo em mim
esse desejo camuflado
nos cetins
que escondem
tua carne.
Insisto
em te querer
ao som desse rítmo incerto.
E enquanto os lobos
bebem a minha água
eu morro de deserto.
DA LIBERDADE E DO CANTO
É preciso quebrar
as cadeias
que me prendem
às grades de teu corpo.
Derrubar as muralhas
que me roubam
os passos. Desatar os nós
que me atam
ao teu silêncio.
Os que me cobram
um canto de sol
não sabem do sal
que me arde
nos lábios. Da língua
que me cerca e sangra.
Das teias e dos traços
que teço aos ventos.
Posso vestir-me
com a pele dos lobos?
Posso acender
a cidade dos anjos?
É preciso quebrar
o silêncio
que me quebra
as vértebras
dos versos.
É preciso saltar
ao que me atrevo
nedta tarde incendiada.
Olhar nos teus olhos
e não sentir nada.
DA DOR
Só a dor
nos consagra um gesto
de piedade. Nos doa
um cálice, nos lava
as feridas.
Da indigência
que nos legaram
os cínicos
ninguém nos redime.
Só a dor
cotidiana
que nos atinge.
Nem a alegria
dos pássaros. Nem
o soar de teus passos.
Só a dor
nos conforta
com seu bálsamo.
Rodrigues de Senna é um poeta, articulista e compositor piauiense.
Autor de O Sal do Verbo, poesias.
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