Romance Crianças do Abismo cria um universo lúdico no processo identitário de seus personagens

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Johann Heys, Criança do abismo, Editora Kotter, 2018.

       

Fernando Andrade

 

A dimensão do lúdico parece que nunca abandonou o universo mental de Johann Heys em seus romances, sendo que este que escrevo sobre, é o segundo que leio e escrevo. Aqui referendo a palavra com seu aspecto psicanalítico de operar dentro da linguagem, aspectos pulsionais do corpo-falante; do próprio ato de narrar. A pulsão talvez seja uma forma maleável de contornar o real ou brincar com suas formas que por vezes não são tão maleáveis assim. O que me interessa nas narrativas do escritor é potencializar este aspecto num discurso mais adiante em torno da própria noção do Play, aqui nas suas várias modalidades significantes. Jogar; tocar, na música por exemplo. Johann é um escritor bem fabril\febril na sua volição de escrever narrativas onde a ação é uma premissa importante, seu ritmo é sempre fluido, como uma correnteza que não se desgarra de seu volume- intensidade.

Neste seu novo romance chamado Crianças do abismo, pela editora Kotter, o autor cria através de margens que são os estudos para a ação e os personagens, linhas muito interessantes, utilizando a magia com forma de desenvolvimento dos personagens dentro de uma célula nunca muito libertária como a família. Para isso, Johann utiliza esta noção do play como encenação de um drama, de um linha conflitante de posturas e ações que se desenvolvem dentro de grupos e contextos. A habilidade do autor está em nunca deixar sua trama sem a costura referencializante de uma época, que foi no seu caso, os anos 80. Dentro de um contexto geracional, o autor não cai em estereótipos, nem de gêneros nem estilísticos. Sua condução dos personagens que gravitam pelo enredo é segura, tanto em Ricardo como Pedro, assim com primo Kim. Johann também é um grande apurador da linguagem, mimetizando-a às suas personas das suas criaturas, criando um processo-identitário firme em relação aos três personagens que centralizam a trama. A época é sempre um possante exercício de ressignificação identitária; ela margeia os processos de individualização dos seres fazendo-os entrarem ou não em processos entrópicos. Johann conduz estas relações entre história e biografias muito bem.   

 

 

 

AFernando 300x169 - Romance Crianças do Abismo cria um universo lúdico no processo identitário de seus personagensFernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018, o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie pela Editora Penalux.

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