Escrevo a resenha de um livro sobre o fascismo que todo dia, alguém perpetra como uma pesada pedra botando algum conteúdo maledicente atirando facas cravando ódios numa fila de banco, numa caixa de supermercado. Faltam 20 dias para eleição para presidente, e acho que a leitura destas Das pequenas corrupções cotidianas, citadas acimas, que levam a barbárie, não fazem o efeito desejado, pelo contrário, num fascista que o leia, ele servirá de piada de ofensa ao livre exercício da reflexão-crítica. Operar pela linguagem como este livro opera não vai sanar o sanatório de contradições onde relações de classes são cada vez mais flertadas com um discurso antagonista em vez de um protagonismo de uma liderança que vá mexer com as bases do país.
Mas a educação começaria na leitura deste livro de contos do Rodrigo Novaes de Almeida, (editora Patuá) um potente observatório, que ao invés de apontado para outra galáxia, aponta para a nossa macro-realidade-cotidiana. O livro pode funcionar como um caleidoscópio de enredos tanto verossímeis quanto absurdos de eventos que homens na sua hábil habitat habitante de promover ações de escárnio e torpeza à cenas que muitas vezes poderiam passar como desapercebidas, como um cena de sexo num apartamento, e que através, de um olho-escrutínio, chama para si, o lugar do evento.
Há uma necessidade do eu nos narradores do livro de afirmarem convicções que passam pelo nível de uma baixa auto-estima? ou uma superior(idade) egóica. Rodrigo enumera ocorrentes situações onde a violência se torna um algoritmo explosivo de barbárie, e me parece que dentro de suas histórias que aparentemente são isoladas entre si, há um grau de contaminação. É como se os personagens se contaminassem pelo fato de estarem próximos pela face book da página-livro. Não é um modelo de propaganda que estou à fazer, muito pelo contrário, apenas ressaltando o viés crítico (valorativo) do autor em através de um mimetismo seu pela sua linguagem cortante em operar na fala destes personagens, quase um dialeto da violência. Fazer uma crítica aos círculos cada vez mais abertos do fascismo, trabalhar espectros de seguidores. O nível de identificação torna este livro um nome da rosa numa biblioteca (país) universal.
Fernando Andrade é jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador na Literatura & Fechadura realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018, o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie pela Editora Penalux..
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