Que lugar? o imenso, o vasto pode ter para um ponto aqui podendo ser o cardeal ou singelo ponto gramatical. O homem passou a vida demasiada humana precisando de lastros seus para amarrar suas pegadas, que são seus rastros. Há uma questão para o humano quando ele se vê finito que é quanto pode-se um conteúdo? Já pensou leitor desta resenha, quanto temos de recipiente nesta intensa forma de preencher (lacunas) O vazio parece que precisa ser totalizado em sua largura e fundura. Preencher e assinar seriam os lastros do pós-modernismo. Mas com alguma verve paródica ou satírica. Mas e a poesia? O que poderia dizer um poeta mineiro, o que cabe? no mar em seu tudo ou conteúdo. Se lá já não temos o oxigênio respirável. Este mundaréu todo, vasto continente de fluidez; de movimento amniótico. Digo leitor como seria esta pergunta colocada dentro de uma garrafa e jogada ao mar para alguém responder? talvez um (a) moçambicano a abra e diga seu nome e fale um poema a devolvendo ao vasto que (a) profunda respostas não encontradas.
Mas os poetas estão à muito jogando garrafas ao mar, esta é a ideia, diria Daniel Ribas, com a liquidez das águas, vemos de lá, para cá, profundezas em palavras e versos que matizam a questão do concreto que a poesia felizmente não dá. Mas o importante não é a mensagem que o vidro da garrafa como uma lente deixa aos outros entrever o que se está escrito dentro da garrafa. É a latência à decifrar. O escondido sem revelação de alguma identidade perdida balançando ao sabor das ondas. A poeta Adriane Garcia em seu novo livro Garrafas ao mar pela editora Penalux, tece certas correntezas que fluem pelos poemas que muitas vezes na superfície o leitor não enxerga pelo imersão funda de seus versos. Muitas vezes dizemos que o poeta se faz por camadas quando poliniza os versos. Neste rico emaranhado como uma teia, mas sob forma de poética, as palavras se agrupam para não dizer, mas apenas revelar, ou camu(in) suflar. Adriane o faz de forma bela e perfeita ao tecer causos – fábulas ou apenas reflexões-ações sobre nossa pequena condição-humana. Há que admirar o pequeno espaço onde se dá para a poeta numa agilidade tremenda; cruzar imagens simples e intensas com uma agilidade de pensamento sobre o que dizer ocultando os traços-rastros da sua pegada.
Um outra coisa à notar que poucos poetas desenvolvem. Um jogo dialógico entre título inteiramente original, no seu duplo sentido de originalidade, com o poema em si. Há uma conversa gostosamente irônica entre o que o leitor deita no título ( é preciso prestar atenção neles) e depois percorre com calma, e repetidamente, o poema em questão. Não digo que pode haver um experimento sobre uma certa filosofia do cotidiano, vendo através do experimento haicai (pois ela tem a síntese desta contenção quase japonesa de dizer muito em pouco espaço) uma espécie de arqueiro-zen onde a flecha mira e acerta o alvo. Adriane passa por cima desta espécie de valorização reflexiva sobre a natureza humana. Os espaços em branco são outros!
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