Fernando Andrade entrevista a poeta Raquel Gaio

 

 

FERNANDO ANDRADE –  Você trabalha uma poética do corpo mostrando todas suas fraturas. Como chegou a esta relação tão próxima com o magma corporal? 

RAQUEL GAIO – não cheguei, sempre estive.vim ao mundo fraturada, propensa à ruína.minha grande aptidão é ter o corpo envergado, é declínio e trunfo, e isso aparece na minha poética, ela é esburacada.

FERNANDO ANDRADE – Há uma relação entre o individual perpassado pela fratura do corpo e busca por entendê-lo através de uma animalidade visceral. Muitos exemplos de animais são usadas por você. Como foi este trabalho topográfico de relacionar o humano como uma animalidade latente?  
RAQUEL GAIO – acho que não busco entender o corpo, e sim mostrá-lo. para isso, faço incisões nessa carne domesticada. tento resgatar uma certa fúria, um estranhamento, a animalidade apagada, busco realizar uma eutanásia do corpo objetivo e burocrático e acordar o animal que reside no músculo, no osso, na linguagem.

 

FERNANDO ANDRADE –  Não há um trabalho de rimas tanto sonoras quanto aliterações muito frequente em poesia. Como é o  exercício interno dos seus poemas? há uma potência que vibra à cada estrofe versejada. As imagens parecem que substituem mais as rimas?   
RAQUEL GAIO –  as imagens nascem incessantemente no meu corpo. sou toda tatuada. não penso em rimas, mas em ritmo, em som (o som de uma queda), em uma narrativa incisiva e úmida. a imagem também deve ser um grande ruído, embora ela própria não esclareça nada.

 

 

afernandoab 300x300 - Fernando Andrade entrevista a poeta Raquel GaioFERNANDO ANDRADE é jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018, o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie pela Editora Penalux.

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