bolha de sabão
A bolha de sabão é um pequeno planeta
muito delicado. Não o invada.
Veja que os continentes
não vão durar muito. O mesmo se dá
com os mares finíssimos.
Sua atmosfera de roupa lavada
tem um clima instável ao tato.
Talvez a população da bolha sequer se mova
em ondas migratórias, ou o pequeno
planeta, ploft, teria drasticamente
finda a sua geologia
etérea.
Um deus criou este mundo num sopro.
Já começou outro.
fim de feira
Vejo quais são as necessidades básicas
pouco daquilo que se vê na feira
e certos equilíbrios –
faça por onde, digo ao vento
que insiste com presságios
– malgrado vejo, em cifras,
que as palavras também nos vestem
de ossos mais frágeis
(e os túneis bocejam velhos trens)
enquanto eu rabisco
numa atordoada caderneta de feira
a cesta básica:
poemas, poemas, poemas
para nunca mais
sair do humano.
breve ode ao fósforo
Há um quê de rispidez
na brevíssima decolagem
que o palito faz (arisco)
da caixa ao ar:
este portátil prometeu
não se nega a mais que isto.
E tem mais o que fazer?
Viver já é atrito.
(Poemas retirados da plaquete Curriculum Vitae, lançado pela Fresta Editorial)
André Ricardo Aguiar, escritor. Nasceu em Itabaiana (PB) Atualmente mora em SC. Publicou os livros A idade das chuvas, poemas, e Fábulas Portáteis, contos, pela editora Patuá. E os infantis O rato que roeu o rei (Rocco), Pequenas Reinações (Planeta) e Chá de sumiço e outros poemas assombrados (PNBE e PINAIC, obra selecionada para a Feira de Bolonha, Itália). Membro-fundador do Clube do Conto da Paraíba.
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