“A bolha de sabão é um pequeno planeta” – Três poemas de André Ricardo Aguiar

 

 

bolha de sabão

A bolha de sabão é um pequeno planeta
muito delicado. Não o invada.

Veja que os continentes
não vão durar muito. O mesmo se dá
com os mares finíssimos.

Sua atmosfera de roupa lavada
tem um clima instável ao tato.

Talvez a população da bolha sequer se mova
em ondas migratórias, ou o pequeno
planeta, ploft, teria drasticamente
finda a sua geologia
etérea.

Um deus criou este mundo num sopro.
Já começou outro.

 

 

fim de feira

Vejo quais são as necessidades básicas
pouco daquilo que se vê na feira
e certos equilíbrios –

faça por onde, digo ao vento
que insiste com presságios

– malgrado vejo, em cifras,
que as palavras também nos vestem

de ossos mais frágeis

(e os túneis bocejam velhos trens)

enquanto eu rabisco
numa atordoada caderneta de feira
a cesta básica:

poemas, poemas, poemas
para nunca mais
sair do humano.

 

 

breve ode ao fósforo

Há um quê de rispidez
na brevíssima decolagem
que o palito faz (arisco)
da caixa ao ar:

este portátil prometeu
não se nega a mais que isto.
E tem mais o que fazer?
Viver já é atrito.

(Poemas retirados da plaquete Curriculum Vitae, lançado pela Fresta Editorial)

 

 

 

 

André Ricardo Aguiar, escritor. Nasceu em Itabaiana (PB) Atualmente mora em SC. Publicou os livros A idade das chuvas, poemas, e Fábulas Portáteis, contos, pela editora Patuá. E os infantis O rato que roeu o rei (Rocco), Pequenas Reinações (Planeta) e Chá de sumiço e outros poemas assombrados (PNBE e PINAIC, obra selecionada para a Feira de Bolonha, Itália). Membro-fundador do Clube do Conto da Paraíba.

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