“turva superfície agora desvalida da profundidade” – Três poemas de Luiz Walter Furtado

 

Assédio das águas capa digitalizadalivro 200x300 - "turva superfície agora desvalida da profundidade" - Três poemas de Luiz Walter Furtado

 

 

Labirinto

Com sua ausência:
a vida
nos vãos da casa

Caminhar
pela vertigem do espaço
vazio,
correndo o risco
de me perder na matéria
de cada objeto

Entre os abismos
concretos:
o solo movediço
de todos os versos.

 

 

O riacho

Com sua partida:
a metamorfose

O riacho, antes calmo,
cresceu, agitou-se
e ganhou ânsias de rio

Águas calmas se revoltaram,
fazendo precipitar
pedras sobre outras perdas,
as quais pensava,
de tão profundas,
bem assentadas

Pura ilusão,
perdas nunca se vão.

 

 

Morte de Narciso

No lago,
turva superfície agora desvalida da profundidade

Lados distintos
que não se deixam mais ver
e o reflexo recolhido
à sua própria ausência

A morte a espalhar-se horizontal, opaca,
impenetrável

Do Outro não se conhece
o destino.

Assédio das águas (páginas Editora 2017)
Autor: Luiz Walter Furtado
98 páginas

 

 

Luiz Walter Furtado nasceu em Belo Horizonte, vive em Ouro Preto, MG, e começou a escrever poemas aos 57 anos. Acredita que a escrever é um ato de resistência. Escreve poesias para tentar dizer, com versos desmedidos, da língua que não cabe no silêncio.

Tem poemas publicados em várias revistas digitais, publicou Revelações (Penalux 2016) e Assédio das águas (Páginas Editora 2017).

Contato: E-mail: lwfsousa@gmail.com

 

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This Article Has 1 Comment
  1. Luiz Walter Furtado Reply

    Agradeço à equipe da Revista digital Literatura e fechadura, em especial a Jean Narciso e desde já esta será uma revista de leitura obrigatória para aqueles que amam a poesia.

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