[FERNANDO ANDRADE
escritor e crítico de literatura]
Há uma crônica que não jornaliza a trajetória do narrado evento. Pela ótica da profissão é preciso certa isenção ao portar um fato para noticiá-lo. Além de respeitar as fontes e nunca abri-las ao público. Mas a literatura não pertence muito ao viés jornalístico. Até porque ela é hibrida, coisa que a regra e os mandamentos de um bom lead não operam, as cinco questões denunciantes do lead. Nisto a poeta e escritora Vássia Silveira não lida com este lead subordinado à saber identidades de quem vai pela cabeça da matéria.
Vássia tem o dom e o teor de começar muito bem suas crônicas, esta bela, Branca nuvem em céu escuro pela Editora Penalux, azeitando com bom tempero uma ironia com fino sabor da indefinição ideológica. Seu textos são matizados pela humanidade dos gestos e das palavras e ações que fogem do padrão costumeiro do desenho humano. Há certa reticência ou lacuna onde ela se dirige ao leitor, obsedando certezas do outro lado da leitura. Por que Vássia intercala? poemas entre as crônicas. Para desgramatizar algum possível conteúdo que siga normas e que perpetue dogmas (de)correntes.
Criar um espaço imagético e libertário onde a crônica siga uma linha não zoneada de horizontes. Onde não haja demarcações de gêneros, só poesia do cotidiano de pessoas que lhe são próximas, dos afetos que não são à ferro e fogo marcados com um rótulo de “humanidades”, esta pessoa tem conotação? este viés político e este matiz ideológico. Vássia trabalha tanto o afeto em sua escrita que um estudioso poderia seguir um linha cromática de tantas nuances filigranáticas que perpassam cada sua história narrada.
cotação: ótimo
Be the first to comment