“e pra cada vertigem um monge zen”- poema de Pedro Blanco

 

um padre avoado
sustentado por uma pá de balão
foi do céu ao chão
e no meio do boneco do fofão tinha uma faca
tinha uma faca no meio do boneco do fofão
no meio do boneco do fofão HAVIA uma faca
– que é o mais correto e muito menos poético –

evangélicos
evangélicos traficantes
na sintaxe, dúvidas?
nenhuma
a ordem dos fautores não altera o subproduto

aluga-se és a gula

tudo é tão confuso, por exemplo:
os livros matam as árvores ou as homenageiam?
se as cobras agora estão usando gravatas
elas estão penduradas no pescoço ou no rabo?
ou o que push tem a ver com empurrar?

deus que me perdoe, mas nietzsche está morto
e além mais, prefiro as filosofias de buteco

deus que me dispense
mas prefiro os desimportantes
eu caibo em quem não tem cabimento
eu caio em quem não cabe em si
eu adoro quem se acaba sem medo

sabe o que eu acho?

causas perdidas
aqueles gato pingado
os cães com manteiga na chapa sujando a sala de star

mas sem guerra
me dá uma trégua
eu só prefiro as pedras
do que o brilho das estrelas

entendo por galáxia os olhos de meus amigos

enfim, desculpem o transtorno
mas ando meio transformado…

-e afinal, quem foi que disse que não pode se alimentar de
nuvens?

.

 

****

se me grita revolución
beijo de língua de trapo tua garganta nua
se nos derem tiros
te arquiteto diabética
e te salvo gritando
truque!

e se me dão meio pau
penso ainda tô meio inteiro

se fuzilam um irmão chamo logo
lorca

se dizem cuidado
penso logo num poeta nascendo

se avisam jogral
que a letra seja sobre roubar o cavalo de pulôver dourados na casa do joão

se dizem saúde
digo pra quê?
se dizem amém
mostro o beijo de língua de trapo copiado do brechó colado na garganta nua de quem grita revolución e juntos gritamos: já amo!

e se a vida nos der fogo
façamos terrorismo

se nos cessar fogo
oferecemos emprestado

é leve. pegue o quanto quiser

se a vida nos der gelo
nos abrasemos mais um pra sempre

e freios cortemos
e não teremos lugar ao sol com essas nossas asas ansiosas
mas foda-se
nos instalamos em território de lua e conhaque roubados a coração armado de algum poema que sempre fará sentido

e se nos derem sentido
sinal de que estamos perdidos

e se vida loucura a der
nos apaixonemos mais um muito

e se nos dão muito tem um tudo pra todos aqueles que
lacrimogeneando
se manifestam entre gritos e beijos

.

 

****

pra que que a cada cigarra uma lei de incentivo à cultura
para que todo presidenciável periferique-se
para que quebrem todas as barreiras menos as impostas pelos mímicos
pra que todo vira lata – luxo
e para todo homem – coração dilatado
pra que toda criança tenha o direito de pisar em lego

pelo rodízio de pf
e pra que toda pm por favor – pare! (pegue no compasso)
pra que toda tropa fique em choque com nossa trupe
pra que toda bala – capotão
e pra toda canhota – canhão
e pra toda bola fora – fair play

pra que toda feira – xêpa
e pra que toda segunda – domingo

pra que toda pomba gire
e pra cada vertigem um monge zen
pra todo corpo incêndio
e pra todo queimado vivo político

pra que toda oração deixe de ser subordinada

pra que em toda pele floresça
e que toda a flor da pele
exale
pra todo axé – mais verdade e menos propaganda
e pra toda amém – amor
dida

para todo ponto final – reticências
e pra cada ponta derrubada – mais um

pelo boicote à você mesmo
pelo boicote à mim!
pelo boicote ao ser humano!
eu digo:

quem?

hein?

quem?

 

 

pedro blanco é falhador de poesia, pescador de peixe fora d’água e usuário de Rita Lee

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This Article Has 1 Comment
  1. Gabriel Reply

    Gostei muito. Novo ar da poesia.

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