Foto de Ana Meireles
Por Douglas Nélio Lima de Oliveira
Quando me propus comentar literatura, tive o privilégio de acompanhar bons escritores, alguns desde o surgimento, outros já na fase madura de suas carreiras. Fez-se necessário, do meu ponto de vista, observar a produção literária dos escritores que me são contemporâneos, por motivos que me são óbvios: quem apresentará os “desconhecidos”? Comentar os clássicos da literatura brasileira e universal nunca é demais, todavia, há quem se ocupe de fazer isso bem melhor que eu. Numa dessas apresentações tive a oportunidade de receber a obra do escritor Jean Narciso Bispo Moura, natural da Bahia e atual morador de Suzano – SP.
Poesia… Mais um livro de poemas me chegava às mãos para ser folheado. Ora, qualquer avaliação deverá apoiar-se na cautela – para que não haja a pressa em elogiar, tampouco em condenar – e no zelo com a “alma” do autor que a despiu em palavras. Embora alguns críticos antecipem-se à leitura, construindo pareceres embrionários, ocupo-me primeiramente em ser um leitor. Não existe crítico melhor que o leitor. De cabo a rabo deslizei nos poemas tingidos nos papéis do livro. Talvez o Narciso de Jean não seja o amor pela própria imagem, mas pela figura que imprime em nosso espírito através de suas palavras. Retratos Imateriais é a personificação do nosso tempo, da nossa juventude que acelera dentro da lentidão dos dias. A contemplação dessa afirmativa manifesta-se no primeiro poema do livro desespero temporal:
o tempo envelhece na pele da humanidade
os séculos descansam no colo do milênio
o tempo envelhecido caça rã tartaruga
e borboleta
O poeta não tem a palavra como posse, antes, ela é quem o define. Retratos Imateriais mostra-nos a verve poética de Narciso na contramão:
alguns poetas
atiram as palavras ao léu
ou melhor na escuridão do abismo
Ler poetas, como Jean Narciso Bispo Moura, é perceber que a poesia ajuda o homem a construir sentidos, que o poeta está na luta contra a mortalidade, pois, como diz Jeová Barros “Quem escreve poesia nunca morre”.
Mais um livro de poesia… que não é MA-IS um, é a soma dos retratos da vida, da imaterialidade de “o pensamento sem motor / vê a palavra”. A imaterialidade que nos cerca ganha força nas palavras de Jean, o aniquilador, o rato, a garrafa… o inanimado, o vivo, a fuga do eu, o espectro da voz.
A poesia de Jean Narciso Bispo Moura está afinada às vozes dos poetas do hoje, do fronte sedutor, suave e elevado dos literatos. Escrever poesia é uma tarefa árdua, exige que o poeta nasça e morra a cada poema concebido. Não se lê o mesmo Jean no poema seguinte, já não é Narciso a ressaca.
Imprimiu-se em meu espírito o corpo fragmentado da poesia de Retratos Imateriais, para substanciar o imaterial da alma através da palavra: palavra de poeta.
Douglas Nélio Lima de Oliveira é arquiteto e urbanista, escritor paraense, vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir, promovido pela Fundação Cultural do Pará, no ano de 2017, com o romance Histórias de Chuva. Colaborador nas Revistas Aspas Duplas e Literatura & Fechadura. Mantém ativo o blog Folheando Resenha, onde indica a leitura de livros que julga importante ao leitor, é também editor da Editora Folheando.
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