Fernando Andrade entrevista o escritor Mike Sullivan
16 de Novembro, 2020
FERNANDO – A voz da narradora mistura estilos literários diversos como o poético, e também um acento de ensaio sobre as relações antes entre Gêneros masculino e feminino. Como foi construir esta ponte entre tantos gêneros literários para falar da sexualidade humana na sua forma mais espontânea?
CLEO – Fazer a ponte entre, tanto os Gêneros literários, quanto entre os gêneros Feminino e Masculino, porque já havia uma pesquisa anterior para o Mestrado e o Doutorado, correspondente a nove anos durante o Mestrado; elaborei uma Dissertação sobre a Escrita da Mulher, analisando o desencontro amoroso em romances da Lygia Fagundes Teles, Nélida Piñon, Hilda Hilst e até nos contos e poemas da Adélia Prado. Já no Doutorado, me ative ao diálogo entre os pares amorosos nos nove romances da Clarice Lispector.
FERNANDO – A fera seria um superego poético da narradora desconstruindo os modelos de idealização da personagem sobre os homens? No processo de escrita temos a autocrítica do que expomos de conteúdo para o mundo. Que relação poderia se ver entre fera no campo da sexualidade à gênese da escrita enquanto fomento destes mesmos aspectos das pulsões sexuais.
CLEO – Sim, podemos considerar a Fera como um superego da protagonista, Vera, a sabotar-lhe os sonhos, os desejos – aonde houver escuridão, habitarei … sou Fera e à Fera tornarás, sempre.
FERNANDO – Os homens parecem estar em descompasso com a intimidade feminina. Fogem ao compromisso. Por que há tantas diferenças nos quereres masculinos e femininos?
FERNANDO – Há um linda “interferência” da escuta psicanalítica no romance. Pontuado por belos insights poéticos sobre a escuta do outro. Como foi tecer esta relação da psicanálise com a ficção?
CLEO – A tecitura Psicanálise – Literatura instalou-se inexoravelmente pois a minha formação acadêmica é em Psicologia: os insights foram se imiscuindo, sorrateiramente, à ficção, resultando em revelações poéticas, como aquela da associação entre os olhos caramelados de F. e as “baratas doces” clariceanas.
FERNANDO – Como é seu processo criativo? Por onde começa um novo trabalho, pelo tema, pela voz?
CLEO – O meu processo criativo é caótico: não sei dizer, claramente, de onde surgiu a Fera – se impôs! A construção da narrativa saiu como um jorro, a Teoria do Feminino se misturando como água na areia – sumindo.
Meu segundo romance, Lola Copacabana, o mesmo “desprocesso”. As frases vão jorrando, impõe a Carnavalização. Estou pesquisando para um terceiro livro, Helena, sei de antemão que, na hora H da escrita, sairá caótico.