André Luiz Pinto entrevista o escritor Fernando Andrade sobre o livro ‘Se a vida fosse um vinil’

Fernando Andrade - André Luiz Pinto entrevista o escritor Fernando Andrade sobre o livro 'Se a vida fosse um vinil'

 
 
 
 
 

André Luiz Pinto – Começamos pelo projeto em questão, peculiar, por sinal, Se a vida fosse um vinil, dividido em dois capítulos, Lado A e lado B, além de uma seção de Bônus Track, que muito me divertiu. Fala-me um pouco dele, e ao meu ver um traço de ironia que desconhecia de sua poesia.

Fernando Andrade – A minha ideia do meu livro era fazer uma metáfora da vida de uma pessoa como se ela estivesse pondo sua vida em questão em uma audição de vinil, que algo é fora do uso, do padrão, hoje em dia, tudo digital. O lado A seria a sua formação com pessoa dentro de um contexto dentro da casa, relações familiares, e o entorno da rua como se desenvolvia com relação ao interior do lar. São poemas que geram certo afeto distanciando dos seus,como alguém que se analisasse por fora. O lado B era saída para a rua, para o movimento social do pertencimento ou não das relações de trabalho, de convívio social, eram poemas onde os temas eram mais matemáticos, mais científicos, onde o tema extraliterário se misturava à temas da literatura, da criação. Os dois contos que abrem os livros também possuem esta realção metaliterária onde o artista é um pouco até antisociável e desértico. Na parte da faixa extra, os poemas tendem para uma certa linha do afrontamento com relação aos modos de vida ou estilos de vida, com muita ironia e humor. Queria que esta lado que quase não entraria, fosse o mais afetado do livro, com sua acidez, sua visão inconformista. É como se o autor colocasse mais algumas música para preencher o álbum com algo até coadjuvante, mas necessário.

André Luiz Pinto – A experimentação, por sinal, não fica só nos títulos, há uma mescla de prosa com poesia, referências a Beckett( no conto do gato Becketiano) a pandemia de 2020, entre outros ingredientes. O conto que citei trata-se de um conto ou poema. Há uma frase lapidar que eu gostaria que você tecesse algum comentário à respeito – todo escritor se faz nesta língua estrangeira. Uma estranheza que não vi nos livros anteriores.

Fernando Andrade – Para complementar os poemas que tem alguma narratividade, fiz dois contos que falam da duração da vida, e de como a autoria depende de como você se vê como pessoa. São contos lacônicos, o primeiro mais, e botei o personagem do Nick Drake que era um cantor folk que morreu muito cedo. E tinha uma depressão profunda. Este conto de uma certa forma se conecta com o disco como uma alegoria de um percurso de vida onde as faixas parecem anos vividos. O segundo conto nos mostra um gato autor muito mordaz com língua afiada, quase uma auto retrato de um artista enquanto jovem, passando pela pandemia, e revelando seus gostos estéticos pela poesia. Neste conto o autor nos diz que todo autor se faz nesta língua estrangeira. Claro que isto é uma referência ao filósofo Deleuze em seus livros. Que a linguagem para o autor deve se sentir seguro ao mesmo tempo como um lugar estrangeiro onde ele não domine os seus signos. A segurança para um escritor é seu amigo hipócrita para não ter nenhuma zona de conforto para fabular seu universo. Beckett era irlandês mas escrevia em francês com uma segurança incrível.

André Luiz Pinto  – A segunda parte, lado B, é acrescida de uma experimentação não apenas na organização, mas no interior do poemas, como o excelente número 1. Neles se insere um desbunde, uma soltura, contrastando na mesma seção com alguns de seus poemas esteticamente mais formais como número 11. Fale-me sobre, estou aqui equivocado nas impressões, ou é por ai mesmo.

Fernando Andrade – Este poema citado por você o número 1 é poema teatral que fiz há muito tempo. E encaixou muito bem no livro. Lado A e lado b A e Z são lados opostos de mesmo ponto, local, onde existam muros, ocidente e oriente. No caso de Z um extraterrestre que vem a terra para arrumar uma parceira e encontra A a mais bela letra do Alfabeto. Mexo com lado estético e visual da letra, que parece uma perna aberta. O lado B talvez seja o mais experimental, onde projeto mais tendências de estilo, e liberdade criativa sobre o ato de ir ao futuro. De se projetar além do seu ponto de começo, casa. È onde a política apura a linguagem para ir ao universo lúdico da vida.

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